Teoria da Geladeira

 Teoria da Geladeira

Quando fiz minha casa há quase 20 anos, meu pai quis me dar de presente uma geladeira e um fogão para eu colocar na minha cozinha por ter construído meu lar do zero sem pedir a ajuda financeira dele.

Pode parecer pouco pra muita gente, mas quando se tem um pai com condições financeiras boas, dificilmente os filhos querem desmamar, mas não foi o meu caso. 

Meu sonho era ser independente, dona do meu nariz e não uma idosa adolescente que mesmo maior de idade depende financeiramente de alguém. 

Tinha ralado bastante para fazer minha casa, até financiamento habitacional eu fiz, garimpei portas e janelas para baratinar custos sem perder a qualidade, deixei de sair, comprar roupa, sapato, comecei fazer minha unha e até dar um jeito no cabelo, afinal quando se tem uma meta os pequenos sacrifícios se tornam até prazeirosos.

A principio eu não quis o inusitado presente, uma geladeira e um fogão, não por achar pouco, mas por orgulho, para demonstrar que eu não precisava da ajuda de ninguém, nem do meu próprio pai, para construir ou mobiliar a minha casa, mas com jeitinho ele me fez ceder. 

Ele não estava ajudando ou desmerecendo o meu mérito, muito pelo contrário, ele estava orgulhoso da menininha dele estar se tornando independente. Ele apenas queria participar da minha alegria, da minha vitória, me dando um troféu em forma de eletrodomésticos pela minha conquista. O pódio continuaria sendo só meu. 

Sábado à tarde, era uma véspera de dia das mães, o comércio do centro da cidade estava aberto e eu ainda não havia mudado de casa. Resolvi ir comprar meus prêmios e depois passar o valor para meu pai reembolsar.

Passei na obra que estava em fase final, conferi as medidas para caber a geladeira e o fogão, afinal podiam estar diferente as da planta, mas não estavam. 

Minha cozinha era toda branca, então os eletrodomésticos também seriam brancos e teriam que respeitar as medidas dos nichos deixados para eles. Essas eram as informações básicas para comprar tais bens duráveis. 

Meu pai não tinha imposto um limite, eu poderia escolher a geladeira e o fogão que quisesse, apenas aconselhou que eu escolhesse algo bom para ser duradouro e evitar dor de cabeça com manutenção. 

Minha mãe foi comigo para ajudar a escolher. Existiam inúmeros modelos que atendiam meus dois principais quesitos: tamanho e cor, pois o valor estava praticamente ilimitado. 

Escolhi uma geladeira branca Eletrolux com o freezer separado e um fogão Dako de 4 bocas também branco, ambos bem básicos.

Minha mãe resolver dar um palpite, entre tantos modelos porque eu não escolhia uma mais caro, mais elaborado, com mais funções, tipo uma geladeira com dispenser de água na porta ou com máquina de fazer gelo; ou um fogão com timer e grill. 

Respondi que, provavelmente, tais funções só iriam servir para dar gasto com manutenção pois não iria usá-las.

Durante quase duas décadas nunca dei uma manutenção nesses eletrodomésticos, exceto ano passado, mas diferente de homens, nós mulheres antes de trocar qualquer coisa, tentamos conserta-la. 

Era dia 31 de dezembro, tinha acabado de fazer uma viagem para Europa e estava há mais de 30 horas em trânsito, entre voo e rodovia até chegar à minha casa. Estava exausta. Só queria um banho e dormir. 

Vou fazer um parênteses: desde que meus pais morreram eu conheço o Natal pelo mundo, já fui, nessa época, para Disney, fiz peregrinação e para vários países da Europa ver as feirinhas e festividades natalinas, como Áustria, Hungria, Eslováquia, República Tcheca, Polônia, Suíça, Liechtenstein, França e Itália, mas isso é história pra outra postagem.

Voltemos.

Eram 6:30 da manhã quando abri a porta do meu apartamento e pensei “enfim em casa”, fui até a cozinha beber um copo de água antes de tomar um banho e reparei que o freezer da geladeira estava descongelado. Achei que tivesse esquecido a porta da geladeira aberta antes de sair de viagem, afinal tinha ficado 20 dias fora de casa e por isso a parte superior da minha geladeira possuía apenas água em seu estado líquido à temperatura ambiente. 

Vou fazer outro parênteses: muitos vídeos na internet aconselham colocar uma moeda no congelador antes de fazer uma viagem longa, pois se quando voltar a moeda estiver em baixo da camada de gelo é sinal que sua geladeira desligou e tudo que estiver dentro dela pode estar estragado.

Voltemos.

Peguei tudo o que estava dentro da geladeira e joguei fora, tinha pouca coisa, o suficiente para uns 3 dias sem ir ao supermercado. Fechei a porta da geladeira e fui tomar meu banho enquanto ela voltava a gelar para depois ir ao supermercado fazer compra, pois no dia seguinte seria feriado. 

Tomei meu banho, me vesti, sequei o cabelo, fiz uma lista de coisas que precisava comprar e fui na cozinha novamente verificar se não tinha esquecido de acrescentar algo na minha lista de compras. 

Eu quando algumas coisas de despensa na geladeira, como arroz, açúcar, farinha… é uma mania minha, quando fui verificar quais desses produtos eu teria que comprar ou não, percebi que a geladeira ainda não havia gelado nada, apesar de estar escutando o motor funcionando e foi aí que percebi que não havia deixado a porta da geladeira aberta durante minha viagem, mas que minha geladeira estava com problema e precisava ser consertada ou trocada.

Como moro em edifício o zelador tem uma lista de pessoas de confiança que prestam serviço de manutenção no prédio. Peguei o interfone e liguei na portaria e imediatamente o zelador me informou o nome do prestador de serviço que sempre consertava as geladeiras dos condôminos. 

Mandei uma mensagem para o prestador de serviço, que logo me respondeu perguntando o que havia acontecido com minha geladeira e pedindo uma foto da mesma. Fiz o solicitado e ele perguntou se poderia ir dali uma hora consertar a geladeira. Em cerca de uma hora ele estava em casa e depois de uns 30 minutos minha geladeira estava funcionando. 

Uma geladeira de quase 20 anos, talvez estivesse na hora de pensar em trocá-la, pois começou a dar trabalho com manutenção, mas quando a escolhi eu acreditava que seria para a vida toda ou até que o motor dela ou o meu coração parassem. Quase como um casamento.

E é assim que muitos homens pensam quando um equipamento ou um relacionamento começa a dar problema: se não está na hora de trocar, diferente da maioria das mulheres que tentam a todo custo consertar o problema. Claro que toda regra tem excessão, e existe algumas mulheres práticas e homens emocionados, mas são a minoria.

Quando a geladeira começa dar problema manutenção o pensamento racional do homem já busca a possibilidade de trocar o eletrodomésticos antes de os gastos com a manutenção e só não troca se não tiver condições financeiras para tanto. 

Nos relacionamentos têm o mesmo posicionamento, quando começam os primeiros sinais de desgaste, em vez de tentar consertar, eles começam a procurar uma substituta, evitam as DR, são contra terapias de casal, fazem greve de silêncio, começam a postar fotos sozinhos, a olhar com mais frequência o Instagram das amigas,… enquanto a mulher tenta, a todo custo, consertar essa “geladeira” que já está procurando outra dona. 

E muitas vezes a solução para não entrar em uma fria é trocar de geladeira a cada ano é ler o manual de uso. Manual de uso? Sim, aquele que veio quando você comprou a geladeira. Aquilo que fez você escolher aquele eletrodoméstico para sua casa: a animação, quando se arrumava mais, a cumplicidade, a tolerância, a paciência… de ambos os lados, e pode perceber, que não é a geladeira que está quebrada, mas você que está colocando panelas quentes e exigindo mais esforço dela, por isso antes de guardar algo espere esfriar, antes de iniciar uma discussão espere a cabeça esfriar, cabeças e panelas quentes podem queimar mãos e destruir relacionamentos. 

#cucafresca

Bjks