A janela
Eu tenho uma “janela de sono”, é a forma que eu chamo um período de quase duas horas que eu acordo durante a madrugada.
Costumo dormir cedo e acordar cedo, mas quase todas as madrugadas, eu acordo e fico totalmente acordada por um período de quase duas horas.
Isso não me atrapalha em nada na vida, pois na manhã seguinte levanto super disposta, por isso nunca fui atrás de um tratamento, pois não é uma doença, mas sim um hábito, porém já fiz algumas pesquisas na internet para saber a respeito.
Algumas teorias dizem que o sono, hoje de 8 horas contínuas, nem sempre foi aceita em alguns povos, onde, primeiro, tirava-se um cochilo assim que se chegava em casa depois do trabalho, para poder descansar um pouco e começar a fazer os afazeres domésticos. Dessa teoria surge a famosa “siesta” dos espanhóis, que dividem o seu descanso em dois turnos de sono, um após o almoço e outro no período noturno.
Mas diferente dos espanhóis, minha “siesta” e meu período de sono ocorrem todos à noite.
Também, pesquisando o Dr. Google, encontrei que essa “janela de sono” é também conhecida como um “período criativo”, onde a mente, por já ter descansado do estresse diário normal, consegue trabalhar o lado criativo do cérebro, por isso é comum o relato de muitos escritores, autores, produtores… terem ao lado da cama um caderninho e uma caneta, para quando surgirem as ideias durante a madrugada eles escreverem para não esquecer na manhã seguinte. Como se fosse um sonho, mas em vez de estar dormindo, está acordado.
E, como já é de se esperar, isso acontece também comigo, pois é na minha “janela de sono” que costumo escrever.
Talvez para desabafar, talvez por não ter ninguém acordado nesse horário para eu jogar conversa fora, talvez para não esquecer meu sonho acordada. Talvez para, simplesmente, passar essas duas horas de forma mais rápida e, acreditando, produtiva.
Não é só durante o período que deveria estar dormindo que escrevo, é só ter um tempinho ocioso que logo pego meu celular e começo a digitar letras, que formarão palavras, frases, parágrafos e histórias que, acredito eu, transportam não só a mim, mas você, meu querido leitor ao mundo particular dos meus pensamentos.
Mas a história da janela hoje é outra, igual à da moça que passou por uma situação vexatória por negar em trocar seu assento no avião com uma criança mimada.
Vou fazer um parênteses.
Ninguém é obrigada a trocar de lugar em transportes coletivos, principalmente em aviões, nas caso resolva fazer, informe a tripulação para evitar problemas futuros, como o caso do rapaz que trocou seu lugar com um fulano e, esse fulano, foi ao banheiro fumar, como os comissários registraram apenas o número da cadeira e não quem estava sentado nela, o rapaz que havia trocado gentilmente seu assento foi banido da companhia aérea, ficando sabendo que havia sofrido tal punição somente no voo de volta.
Voltemos.
A moça em questão se negou trocar seu assento na janela. A mãe continuou o estardalhaço, indignada de como alguém poderia negar algo tão simples a uma criança, porém esqueceu que o “algo simples” era um direito de outra pessoa, que se não havia pagado para ter aquele beneficio, havia se organizado, comprando sua passagem com antecedência para poder usufruir a janela com vista para as nuvens.
No vídeo é possível ver que existem outros lugares com janelas no avião, mas estão ocupados por homens, os quais não foram importunados e nem ofereceram suas janelas para as crianças. Apenas a menina que estava sozinha e se fez de desentendida foi importunada, atacada e ofendida por não querer ceder seu direito de sentar na janela a uma criança mimada, que não está acostumada o ouvir um não.
Minha geração quando saía de casa na época em que éramos crianças os pais já advertiam que se fizéssemos algum tipo de birra, não iríamos mais sair, ou se mesmo assim, fizéssemos alguma malcriação, era comum, nossos genitores cochicharem em nossos ouvidinhos infantis: “em casa a gente conversa”, o que já era suficiente para cessar qualquer tumulto. Isso nos fez crianças e jovens emocionalmente saudáveis, hoje, ante à cultura do “tudo pode”, as crianças, adolescentes e jovens necessitam não só de tratamento psicológico, mas também psiquiátrico.
Não que minha geração fosse perfeita. A cada geração temos um desafio para evoluir (ou não) como seres humanos.
A ciência traz novas descobertas que refletem nas sociedades, principalmente na vida das mulheres. A descoberta da pílula anticoncepcional trouxe a possibilidade de escolher quando engravidar e com isso a mulher pode ingressar no mercado de trabalho e sem abdicar de ser mãe.
O teste de DNA, também trouxe reflexos antropológicos na sociedade, mulheres que engravidavam dependiam apenas da boa-fé de seus parceiros para assumir as crianças feitas fora do casamento, hoje essas crianças, através de um exame, conseguem ter o nome do genitor em sua certidão de nascimento.
Minha geração não foi de crianças e jovens com problemas emocionais, mas de adultos mal resolvidos em questões afetivas, que lotam os consultórios de psicólogos e psiquiatras, tentando encontrar soluções para dores de amores mal resolvidos.
Pessoas presas em casamentos infelizes, pessoas procurando o par perfeito, pessoas com traumas que não foram causados por pais despreparados, mas por relacionamentos tóxicos que deixaram sequelas na alma.
Hoje em dia é difícil encontrar o “até que a morte os separe”, entre tantas homologações de divórcios . E onde foi que nos perdemos?
Muitos acreditam que por a mulher deixar de ser dependente do homem fez com que ela não suportasse mais ser mal tratada, traída, dependente e resolveu, em vez de ficar em um casamento ruim, tentar a sorte em outros três ou quatro desastres emocionais.
Hoje o namoro quase não existe, o tempo para se conhecer, analisar se vale a pena ou não investir naquele relacionamento.
As pessoas se conhecem por um aplicativo, no qual se descrevem o melhor possível, apenas suas qualidades, nunca seus defeitos. Um filtro na foto. E marcam o primeiro encontro, onde colocam a culpa do antigo relacionamento ter dado errado no ex parceiro e já marcar o segundo passo: a primeira viagem juntos, afinal se se suportarem por uma semana em um local agradável as chances de darem certo para o resto da vida acreditam ser de 100%.
Parcelam a viagem em 10x em um resorte à beira mar com tudo incluído. Levam suas melhores roupas e expectativas. A mulher acreditando no sonho de família e o homem apenas querendo uma parceira que lhe atenda as necessidades libidinosas à princípio e depois, se o relacionamento prosperar, que lhe cuide na velhice.
E, após dias no paraíso, chega a hora de morder a maçã e voltar à realidade. Acreditando que podem reproduzir o céu vivido no hotel de luxo em casa, partem para o terceiro passo: vão morar juntos e aí os defeitos não escritos no perfil do aplicativo começam aparecer. A camareira, a cozinheira, o mercado feito, a cama, o banheiro do hotel, já não existem mais. O paraíso acabou, a vida real começou e tudo virou um inferno, inclusive alguns até com cobras disfarçadas de sogras.
Ambos se sentem enganados. A mulher por acreditar que aquele homem provedor que lhe pagou uma pizza com vinho barato e umas férias de uma semana parcelada no cartão iria lhe dar o mesmo padrão de vida do resorte que ficaram. E o homem por acreditar que cílios, unhas, cabelos postiços poderiam ser de verdade.
As indiretas começam, seguidas por castigos silenciosos. O homem começa a curtir fotos na internet para ver se é correspondido por mulheres “fotoshopadas”; a mulher por sua vez, fica bancando a detetive, tentando descobrir qual irá substituir seu posto e dizendo que sexto sentido de mulher não falha, como se esse tal “sexto sentido” existisse, pois se existisse deveria ser usado para escolher um parceiro e não para investigar a vida de um traidor, que logo será ex.
A guerra está declarada. De “encontrei o par perfeito @fulanodetal” a postagens com indiretas. E quanto maior o tempo juntos, maior a batalha, que pode ser travada no pior dos ringues, na justiça. Anos de ofensa. Anos de ansiedade. Inúmeras ligações para os advogados para saber sobre o processo que não anda e aproveitar e desabafar. Sim. Nos advogados por vezes temos que ser psicólogos e, alguns clientes acreditam que somos “pai de santo”, que iremos trazer o indivíduo de volta com apenas uma petição. Lego engano.
Mas voltemos ao casamento. Divórcio é assunto para outro texto.
E por que acabou o “até que a morte os separe”? Contrariando muitos, não foi a independência da mulher, ou sua luta por direitos iguais, mas a escolha apressada de parceiros, e isso serve para os homens também.
Em épocas passadas, em vez de lermos qualidades em aplicativos, comentávamos sobre os defeitos e se iríamos ou não suportar aquela condição. Se iríamos aguentar a filha possessiva de um homem separado, se suportaríamos um homem que vive em boteco ou que não gosta de trabalhar. Os homens da mesma forma analisavam os defeitos das mulheres: quantos namorados tiveram, se sabiam cozinhar, cuidar da casa, não que quisessem uma empregada, mas uma esposa, para cuidar da família que iriam formar.
Hoje em meio a tanta informação, queremos entrar não mais no trem, mas sim em um avião e sentar na janelinha, esquecendo que para tanto ou fazemos nossa reserva com antecedência ou pagamos o preço por nossas escolhas apressadas.
Espero vocês no próximo texto sentada na janela ou não. Bj
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