O Baby Doll
Homens com síndrome de espelho da bruxa da Branca de Neve são aqueles que não perdem uma oportunidade para puxar conversa em redes sociais, basta você colocar uma foto ou qualquer outra publicação, que eles estão apostos a fazer um comentário, que geralmente é o famoso: “oi, linda”.
Para quem não conhece o conto da Branca de Neve, a bruxa malvada e insegura tinha um espelho mágico, que todo dia ela perguntava se existia alguém mais bela que ela e, o espelho sempre dizia que não, até o dia que cansou e disse que a Branca de Neve era mais bonita que a bruxa… e, por causa dessa intriga, o reino encantado, virou reino amaldiçoado e acabou o sossego de todo mundo, até que a bruxa caiu de uma ponte e morreu e o príncipe e a Branca de Neve casaram e foram felizes para sempre na terra que não existia divórcio.
Independente da foto ou do texto postado, esses emblemáticos espelhos da bruxa da Branca de Neve, vulgo “homens oi linda”, insistem em demonstrar seu interesse romântico, ignorando um termômetro importante para definir o que a encantadora moça está procurando em uma rede social: suas postagens.
Quando as moças postam fotos mais ousadas, os comentários dos rapazes também são mais ousados que um ingênuo “oi linda”, mas independente da ousadia, toda estória tem uma bruxa, que por não ser elogiada, quer fazer a confusão no reino das postagens.
Parafraseando o ditado do primeiro alisa, para depois bater, a bruxa desta crônica, primeiro sempre elogiava, para depois destilar seu veneno, igual a vilã do conto da Branca de Neve, que seduziu a ingênua princesa de cabelos negros e pele branca como a neve com uma atraente maçã, a qual estava envenenada.
Então, era uma vez… ou melhor, senta que lá vem história…
Toda vez que nos expomos em redes sociais estamos sujeitos à críticas e elogios, inclusive às críticas “construtivas” de quem nunca construiu nada e está ali apenas para atrapalhar a obra.
Eu tomo cuidado com a minha imagem, evito fotos que deixam muita pele à mostra, ou com poses que podem ter uma interpretação dúbia, mesmo meus textos, eu evito comentar certos assuntos por achar desnecessários, mas independentemente do cuidado, sempre tem alguém comentando que deveríamos ter um pouco mais de cautela com o que postamos, acredito que a maldade está na cabeça da pessoa e por isso a vê em todos os cantos.
O assunto era sobre assédio nas redes sociais, os famosos “oi linda”, até que saiu o seguinte comentário: “eu acho que você se expõe muito, Ana Paula!”
Não vou negar que curto uma rede social, mas procuro usar com certa cautela e com conteúdos, os quais, acredito que agregam algo.
Procuro postar minhas viagens, não apenas selfies, mas também a história do local, sua geografia, referências de tipos arquitetônicos,… Se compro qualquer coisa e acho interessante, compartilho para que as pessoas possam comprar algo de uma qualidade boa a um preço legal, ou ainda para fazer propaganda pois sei que o boca a boca de cliente real ainda é o melhor marketing.
E também tem meus textos. Meu hobby preferido, que já me rendeu alguns royalties com a venda do meu livro e muitos, mas muitos mesmo, elogios. Elogios sinceros que sempre me perguntam se vou voltar a escrever, o porquê dei um tempo na escrita, ou então, contam-me a crônica que leram com entusiasmo, me fazendo saborear um carinho tão grande como um elogio sobre o filho a uma mãe.
Mas é claro que tem as críticas e o “eu acho que você se expõe muito, Ana Paula!”, foi uma delas.
Achei que fosse por causa dos textos, afinal são histórias baseadas em fatos reais, bem reais. Mas não era sobre isso.
Achei que fosse por causa das minhas viagens, mas, mesmo se vou para praia, evito colocar foto de maiô mostrando o corpo todo. Mas também não era esse o motivo.
Tirando os textos e as viagens, só restaram as coisas que compro e compartilho e que também seguem o mesmo padrão dos textos e das viagens, não possuindo nem um objeto de cunho sensual. Então o que seria??? E foi justamente essa pergunta que fiz: em qual postagem minha eu estava me expondo de forma provocante?
A pessoa respondeu que eu havia aparecido em uma postagem de baby doll e isso era o que atraia os “oi linda”.
Meu coração gelou. Só podia ser montagem que algum maluco tinha feito e jogado em alguma rede social. Não era eu. Certeza. Nem baby doll eu tenho. Eu durmo de camisetona que vai até a altura dos joelhos com a cara do pluto estampada.
Perguntei, aonde ela tinha visto tal foto. E ela respondeu com um ar sonso: “no seu Instagram!”
Caro leitor, acredito que a essa altura, até você irá parar de ler meu texto e ir procurar a foto onde eu me encontro de baby doll no Instagram, pois foi justamente o que eu fui fazer depois de ter escutado tal coisa.
Perguntei, se a foto estava no feed. Ela respondeu que era um story. Meu Instagram deixa salvo meus stories e assim comecei minha pesquisa para ver de qual imagem se tratava, mas não encontrei.
Questionei se ela lembrava o assunto, a data, a cor ou qualquer outra informação para eu achar a “bendita” postagem.
Ela em tom irônico respondeu: “Ana Paula, você faz postagens e não se lembra?”
Minha angústia aumentava. Pelo menos a foto estava no story, sua vida útil seria de apenas 24 horas, isso se ninguém tivesse tirado um print.
Tentei mais alguma dica, perguntei se ela lembrava de mais algum detalhe. Se lembrava da cor do “baby doll.”
Mas a irônica saboreava meu desespero como o blend de um uísque envelhecido, até que ela, tentando aumentar minha agonia, disse a frase mágica: “seu baby doll tinha até renda”.
Meus amigos, se o peixe morre pela boca, a mocreia morreu pela fala. No intuito de aumentar minha aflição ela deu a dica que faltava para eu achar a famigerada postagem.
Se é algo que eu não sou adepta é a tal da renda. Renda para mim remete às toalhas de mesa da casa da minha mãe. Agora estava fácil. Bastava eu achar a foto que eu estava com alguma peça de renda e… pimba. Questão de segundos eu achei a postagem.
Era um vídeo que eu estava com uma camiseta de alças de renda que comprei nas Americanas. O vídeo aparecia apenas meu rosto falando sobre viagem e um pedaço dos meus ombros onde se podia notar as alcinhas de renda da camiseta. Não mostrava o restante do corpo e, eu estava na rua, portanto dificilmente eu estaria de baby doll e não seria notícia.
Quando mostrei o vídeo com a única peça de renda que tenho para desagradável “colega” e disse só ter aquela publicação com uma peça de renda, a infeliz respondeu que fazia tempo e só se lembrava da alça de renda que ela acreditava se tratar da alça de um baby doll.
Senti-me aliviada. Não havia sido exposta. Aquilo era apenas crueldade da maldosa pessoa, que por não ganhar nenhum “oi, linda”, tentou me envenenar, não com uma maçã, mas com palavras.
As críticas vêm de pessoas, as quais não irão conseguir ser igual a você ou ter o que você tem, então se revestem de uma falsa sinceridade para fazer com que desacreditemos do nosso potencial e nos tornemos iguais a ela, que não é nada e não tem nada, nem um “oi linda” em uma rede social qualquer.
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