A SOGRA

A Sogra


Eu demorei para saber o que queria ser quando crescer: comecei fazendo faculdade de fisioterapia na Ufscar, depois me formei em arquitetura e urbanismo pelo Mackenzie e por último Direito, que é a minha paixão.


Ainda advogo, mas poucas pessoas sabem, meus clientes são os mesmos que começaram comigo há alguns anos, mas, de vez em quando, faço algumas postagens jurídicas, inclusive esse perfil deveria ser apenas jurídico, mas a audiência é pequena quando posto coisas relacionadas ao direito, meus seguidores preferem minhas viagens e meus textos aleatórios.


Mas esses dias resolvi fazer uma postagem sobre holding como forma de planejamento sucessório no meio rural.


Fiz vários vídeos explicando as vantagens e desvantagens e recebi algumas poucas perguntas, as quais quero agradecer de coração pelo o carinho e a atenção, mas o texto não é jurídico hoje, apesar da pergunta que serviu de inspiração ser.


Dentre as poucas perguntas enviadas, tinha uma em especial, uma que não conseguia gravar o vídeo, apesar da resposta ser muito fácil, mas cada vez que ia filmar, começava rir, por isso em vez de vídeo, um “Senta que lá vem história…” foi a forma que consegui responder ao questionamento.


Era a pergunta de uma provável sogra que queria deserdar a nora. A distinta senhora foi direta ao ponto e escreveu: “quero deserdar minha nora”, só faltou assinar: a sogra.


Geralmente, as pessoas quando fazem uma pergunta jurídica, procuram elucidar o caso, justificando o porquê desejam tal resultado, mas a sogra em questão foi pontual: “quero deserdar minha nora” e ponto.


Tentei gravar o primeiro vídeo, teria que ser uma série deles, para poder explicar o que essa “preocupada” mãe poderia fazer para “defender” seu “pimpolho” que, se já está casado é porque é maior de idade.


Vou fazer um parênteses jurídico.


Quando um menor casa no civil, automaticamente é emancipado, ou seja, se torna maior de idade, mas no caso em tela (adoro usar essa expressão em minhas petições), o filhinho da mamãe já era barbado há muito tempo, mesmo antes de casar, mas, infelizmente, tem filho que a mãe não enxerga que cresceu e fica sendo o eterno “meu menino” em vez de se tornar “ o homem da casa”.


Voltemos.


A cada tentativa eu lembrava de um dos divórcios que fiz, dos casais que me procuraram para colocar fim no relacionamento e ficavam por horas contanto o que levou a essa tomada de decisão e, pasmem, muitas vezes o motivo do divórcio era justamente…. a sogra.


Tive um caso de Reconhecimento de Paternidade, no qual, além da paternidade, também restou comprovado a pulada de cerca do marido, mas não terminou em divórcio, apenas em pensão. 


Quando o assunto é “amante” muitos casais relevam a traição, se perdoam para o bem dos filhos, levam em conta outras virtudes… muitas mulheres alegam que o marido é um bom homem, pai,… e por isso outras mulheres querem aquele “prêmio”, e existem homens que também pensam da mesma forma em relação às suas esposas, acreditando que as mesmas são verdadeiros troféus.


Pedir perdão, reconhecer o erro é humilhante, é um preço a se pagar, mas perdoar, muitas vezes é um ato de coragem. É suportar os conselhos não pedidos, as críticas, os “se fosse comigo…” de pessoas que julgam, mas não ajudam.


Perdoar uma traição e conseguir seguir em frente, para mim, é a expressão máxima de resiliência, mas cada caso é um caso, e não compete a mim julgar ninguém, ainda mais sendo advogada, pois no meu menu para problemas matrimoniais, a única opção é o divórcio, o que muda é o “recheio” que pode ser litigioso ou consensual, judicial ou no cartório.


Mas, quando o problema do casal é a sogra… dificilmente a resiliência ganha e o divórcio acontece.


Não são somente sogras as “bruxas más”, sogros também, muitas vezes atrapalham o casamento das filhas. Não é difícil ver pais ciumentos competindo com genros no sustento da casa, humilhando, de certa forma o esposo da filha que possui uma condição financeira inferior à da que será herdada pela esposa.


São as famosas frases: “como você vai sustentar a minha filha”, “tirou minha filha de casa para isso?”…


Mas, voltemos a questão que inspirou nesse texto: tem como a sogra deserdar a nora? E a resposta é: NÃO. A sogra não tem como deserdar a nora, pois a nora não é herdeira da sogra e, sim, do filho da sogra.


Se o esposo morrer antes dos pais, a nora não terá direito a herança dos sogros.


Se os sogros fizerem uma doação para o filho com cláusula de incomunicabilidade, essa cláusula só terá validade enquanto o filho vivo for, pois quando morrer a nora será herdeira do marido e receberá a parte que lhe couber na herança, exceto, se tiver uma cláusula de reversão, prevendo que se o filho vier a óbito antes dos pais, o patrimônio volta para os pais. 


A resposta era simples. Não tinha nada de complexo, mas a forma de como a pergunta foi feita que complicava o assunto. Não tinha como gravar o vídeo, eu desconcentrava e começar a rir só de lembrar de como a sogra foi objetiva na pergunta.


Foram várias tentativas, até que decidi fazer um “Senta que lá vem história …”, mas dessa vez jurídico.


Muitas vezes o problema não está nos sogros “intrometidos”, mas sim no cônjuge que leva todos os seus problemas conjugais para os pais. Não tem como a sogra saber se o café da nora é ruim se o filho não contar. Não tem como o sogro saber que a filha está sem dinheiro para fazer as unhas, se a filha não contar. 


E, infelizmente, muitas vezes a única saída em um relacionamento assim é devolver o filho(a) para os pais, através do divórcio, quem sabe assim eles, os pais, consigam terminar de criar “seu menino(a) e transformá-lo no “homem da casa” ou na “ mulher da casa”.


E, por último, apenas uma observação: “se sua sogra ou sogro é uma “joia”, como a que inspirou esse texto, saiba que muitas funerárias tem a “caixinha” que serve de porta joias. 

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