Nem só de tias…

Mas nem só de tias era a família da minha mãe. 

Meu vô Fabiano e minha avó Catina tiveram 10 filhos e criaram uma:
Sebastião: morreu com uns 2 anos de sarampo, minha avó contava que foi por causa do chá de sabugueiro que fez o sarampo estourar aos montes, ele tinha o nome do avô do meu avô;
Leonildo: esse morreu bem novinho e nem minha mãe sabe do quê; 
Apparecida: depois de perder dois filhos, minha vó apelou pra Nossa Senhora e colocou o nome da minha tia em Sua homenagem e nós a chamávamos de tia Cidoca.
Tia Beatriz: nome da bisavó da minha mãe, que veio da Itália com o marido Sebastião e os filhos para trabalhar nas lavouras de café do senhor Martinico Prado.
Odette: eu não sei porque;
Rubão: que na verdade era Aristides Geraldo, uma mistura do nome de um irmão do meu avô com o nome do pai da minha avó, mas como minha avó Catina gostava do nome Rubens, sempre o chamou de Rubens; 
Cecília: meu avô Fabiano nasceu no dia de Santa Cecília, por isso colocou o nome na filha; 
Mary Thereza: eu também não sei, sei que foi Seu Rafael Molinari que registrou, as 4 últimas de uma vez, Thereza deve ser por causa da Santa, o Mary eu não faço nem idéia;
Maria Leonilda: a Nini, minha mãe, é a junção do nome das duas avós dela, o apelido veio de "Nilda" e foi até virar Nini.
 e Wally Lourdes: o Wally eu sei que é nome de uma princesa e o Lourdes foi promessa.
Também tem tia Nayr, que foi criada junto delas e é como irmã.
Observação: Se estiver algo errado, fala que eu corrijo.

Tirando os dois mais velhos que morreram ainda bebê, minha mãe só teve mais um irmão: tio Rubão. Portanto, meus outros tios eram todos cunhados da minha mãe.

Tio Bertrando, marido da tia Cida, o mais sério, sempre responsável e presente nas piores horas. Tinha um Opala verde com um rabinho atrás por causa do rádio amador. No dia que ele faleceu, alguns minutos antes, ele mandou um e-mail para várias pessoas sobre o abraço, inclusive para mim.

Tio Elídio, marido da tia Wally, era bem quetinho. Discreto. Sempre na dele. As casas dele eram os filiais da casa da minha avó, uma em Limeira e outra em Santos, onde sempre alguém parava para fazer um pernoite ou passar uns dias de férias e ele nunca achou ruim.

Tio Geraldo, marido da tia Therezinha, o único ainda vivo. O fotógrafo da família (pelo menos na minha época, pois tio Bertrando também gostava de tirar fotos). A maioria das minhas fotos foram tiradas pelo tio Geraldo. Eu já falei que fui minada, que ninguém dizia não pra Paulinha, em certa festa queria ver como ficava dormindo, quando tio Geraldo foi tirar uma foto eu fechei os olhos. Ele disse: "Paulinha, abra os olhos para ficar bonita na foto". Eu respondi: "tio, bonita de olho aberto eu já sei que sou, quero me ver dormindo." E ele tirou a foto. Eu devia ter uns 5 ou 6 anos. (Vou procurar a foto para postar).

Tio Thomaizinho, era casado com a tia Odette, eu me lembro pouco dele, quando nasci ele tinha sofrido um AVC ou algo assim, por isso não fiz parte do coral que ele ensaiava nas festas da família, exceto uma vez. Era bodas de alguma coisa dele e da minha tia, italiano arruma qualquer coisa pra comemorar, até bodas de coisa alguma. Era entre o Natal e o ano bom. Tia Odette ligou para irmos à noite em sua casa. Ia ter bolo de amendoim servido nos pratinhos cor de rosa. (O bolo de amendoim da tia Odette merece um capítulo à parte).

Chegamos. Tinham algumas visitas escondidas no escritório da casa ensaiando algo. Era uma canção feita por uma cunhada do tio Thomaizinho, casada com um irmão dele. Minha mãe já parou ali para ensaiar.

Eu fui atrás do bolo.

Passado alguns minutos, todos apareceram e cantaram a referida música. Era bonita, e só.

De repente, alguém, um dos primos puxou: "eu peguei, chacoalhei, guardei, tornei guardar no mesmo lugar... " Era a música do coral do tio Thomaizinho, podia não ser tão bonita quanto a outra, mas levou meu tio às lágrimas, foi nossa última homenagem a ele, no ano seguinte ele morreu.

Tio Barreira, marido da tia Beatriz, também era bem sério, mas era a imagem mais próxima que eu tive de um avô. Eu saia da escola, tirava o uniforme, almoçava, colocava a coleira no Pingo e na Frida e descia pra casa do tio Barreira. Se uma criança "enche o saco", imagina uma criança com dois cachorros. Eu chegava, soltava os cachorros para brincar com a Priscila, uma cschorra salsicha que eu chamava de Cila, sentava na soleira da porta onde tio Barreira ficava conversando no rádio amador , e ficava batendo na porta de cinco em cinco minutos. No primeiro "toc-toc", ele já ia se despedindo dos amigos dizendo "câmbio, desligo." Enquanto eu continuava a bater na porta e os cachorros a correr pelo quintal.

Desligava o rádio, saia do quartinho, fechava a porta e sentava em um tipo de fonte que tinha no quintal da casa dele para me contar histórias. Eram sempre histórias de defuntos que saiam das tumbas cheios de flores... Eram engraçadas e eu não ficava com medo.

E por fim, tio Rubão, o único irmão da minha mãe, casado com a tia Célia. Eu peguei tio Rubão morando em Bebedouro, e nas férias minha mãe deixava eu na casa da minha avó Catina, junto com o Marquinho, filho da tia Wally e o Thiago, neto da tia Cida (essa era minha geração), para o tio Rubão levar pra Fazenda Recreio. Subiam os três na Brasília caramelo dele e íamos pela estrada de Andes que ainda era de terra. 

Tio Rubão que me ensinou a andar a cavalo. É verdade eu andava a cavalo, hoje não ando mais. Como ele me ensinou? Pediu para o administrador selar uma égua, não sei se foi a Bainha ou a Pombinha, (uma era baia e a outra era branca), colocou em cima e disse que só não era para ir no bambu e não deu mais nenhuma instrução além de um tapa na bumbum da égua. Qualquer neto do vô Fabiano tinha que saber andar a cavalo, pois meu avô jogava polo, inclusive eu, que nem Zaccarelli no nome tenho, mas até que me sai bem, não tive medo, nem caí da égua.

Esses eram meus tios, os "donos" das flores (tias) do meu jardim.

Não existe maior demonstração de amor que dar atenção a alguém. 

Para os meus tios.

Bjs.

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