VÔ SYNVAL
Eu não conheci meus avôs. Meu avô Synval (pai do meu pai) morreu bem antes de eu nascer e meu avô Fabiano (pai da minha mãe) um mês depois do meu nascimento, mas a história deles chegaram até mim pelos meus pais.
Meu avô Fabiano era um descendente de italiano bem alegre , gostava de dançar, eram famosos os bailes no barracão da Fazenda Recreio.
Já meu avô Synval era um mineiro quieto. Foi o último filho do Coronel Conrado Caldeira que nasceu em Minas Gerais, na cidade de Salinas, quase divisa da Bahia, e famosa até hoje pela fabricação de pinga.
Meu bisavô casou com uma alagoana, Dona Júlia Pinto Caldeira, que empresta seu nome a fundação do hospital municipal da minha cidade.
Eram em 7 irmãos, não sei se vou colocar na ordem certa, mas quem souber coloque nos comentários que eu corrijo depois: tia Nhá (Amália), tia Pitiú (Amélia), Tio Ioiô (Moacyr), meu vô Synval, tio Agoncillo, tia Moça (Augusta) e Epiphania (essa morreu nova).
Apresentações feitas vamos ao "causo".
Meu avô, como já disse era um mineiro quieto, morreu uns 4 anos antes de eu nascer, dizem que foi por causa da morte do filho (tio Conrado) que, depois de dois anos do acidente, o câncer o consumiu.
Algumas lições e as histórias de família dele chegaram até mim pelo meu pai.
Meu pai contava que meu avô foi estudar Engenharia em Ouro Preto/ MG, mas meu bisavô Conrado o trouxe de volta para trabalhar nas Fazendas de Café: a Santa Júlia e a São Juliano, que são próximas ao distrito de Botafogo.
Os irmãos dele eram formados: tio Ioiô (Moacyr) era médico e tio Agoncillo era farmacêutico (as irmãs eu não sei se eram formadas).
Mas mesmo sem chegar a se formar, o estudo trouxe conhecimento para meu avô, tanto que até hoje tenho a planta e a fachada da sede da Fazenda Boa Esperança que ele desenhou, coloquei o desenho em um quadro enfeitando a parede da minha casa.
Ele gostava tanto de engenharia e arquitetura que o jardim dessa fazenda é uma topiaria em forma de labirinto feita pelo engenheiro Oscar Werneck (aquele que empresta seu nome a uma rua de Bebedouro e quase ninguém sabe quem é).
Conhecimento nunca é um mal investimento e não existe um conhecimento melhor e outro pior. Todas as áreas do saber têm importância: a vida depende tanto do médico pós graduado, quanto de um agricultor mal letrado.
Meu avô voltou pra Bebedouro, mais especificamente para o distrito de Botafogo. Conheceu minha avó Marianna, se casou e teve 4 filhos: Maria José e Elzy Maria (eram gêmeas, e Maria José morreu ao nascer), tio Conrado (que morreu de acidente com trinta e poucos anos) e meu pai Zelito.
Diferente do meu lado italiano, que sempre tenho muitos "causos" para contar, a "mineirada" é bem quieta, gente reservada.
Meu sobrenome do lado do meu pai é sinônimo de honestidade. Um povo centrado que cuida da própria vida. É difícil encontrar um em quermesse e, se vai, é para agradar a esposa ou o marido. Mineiro gosta de sossego. Pelo menos é assim que eu vejo eles.
Então poucas histórias eu sei sobre meu avô Synval, mas três ditados, em especial, meu pai citava sempre como lições deixadas por ele, os quais eu guardo como filosofia de vida.
Talvez seja uma forma de saber que tive um avô paterno, que chegou até mim, não em carne e osso, mas através de exemplo de honestidade e seriedade.
Vamos aos ditados:
"Quando se está certo, não se tem medo."
"Todo mundo é bom pagador enquanto pode."
"Nunca empreste dinheiro (nem endoce) pois você irá perder o dinheiro e o amigo."
Se você está certo, realmente, não se tem medo. Até um cachorro fica escondido, com medo, quando faz algo que seu dono não irá gostar.
Se você fizer a coisa certa, até pode dar errado, mas terá as justificativas para corrigir o erro na próxima tentativa, ou pelo menos, justificar o porquê errou.
É fácil erguer a voz, difícil é consertar a situação. É fácil brigar, difícil é fazer as pazes.
Mas se você está certo não se tem medo de dizer um oi para o desafeto. Quem está certo não foge, encara o perigo sem receio.
Talvez essa seja lição mais importante de todas. "Não ter rabo preso." Quando não se tem nada a esconder, não se tem nada a temer, podem até inventar, mas na boca de quem não presta, ninguém vale nada. E, com certeza, sua conduta será sempre sua maior defesa, seu advogado, sempre.
O segundo e o terceiro ditados, falam de dinheiro. Todo mundo é bom pagador, enquanto pode, mas nem todo mundo é honesto o suficiente para renegociar a dívida e some, desaparece, bloqueia as ligações, manda dizer que não está... Inclusive seu amigo, que deixará de ser amigo.
O devedor, que por um incidente da vida, não consegue pagar seus credores, ele não some. Ele os procura, tenta amenizar os prejuízos, pois quem está certo não tem medo, nem vergonha, assume o erro, o imprevisto, honra o compromisso como for possível.
Não utiliza de uma desculpa para prejudicar o outro, pois o que não se quer para si, não se deve fazer a outrem
Nessa época de pandemia muitas pessoas utilizam desse caos como forma de salvo conduto para infringir a ordem econômica.
Deixam de honrar seus compromissos, sendo que não tiveram prejuízos e começam evitar seus credores por medo, mas se você não está fazendo nada de errado por que iria ter medo?
Para meu avô Synval, com orgulho.
Bjs
Comentários
Postar um comentário