Maio, mês de Maria, mês das mães. E vó é mãe duas vezes.
Quando era pequena nesse mês eu ia todas as noites na casa da minha vó Catina, mãe da minha mãe. Pra ser sincera, nós, eu meu pai e minha mãe, íamos quase todas as noites na casa da minha vó Catina.
Meu pai gostava de jogar buraco. E na minha vó sempre teve esse jogo de cartas, principalmente quando tio Rubão estava lá.
Tio Rubão além de me ensinar a andar a cavalo, também me ensinou jogar buraco. Ele tinha uma foto 3x4 minha com os cabelos bem curtos na carteira dele. Sempre que me via, fazia um sotaque imitando bahiano, perguntava e respondia ao mesmo tempo: "Cadê Paula? Paula tá na Barra." e eu caia na risada...
Minha mãe ficava na copa da casa da minha vó com minhas tias, tomando chá de erva cidreira (de noite não podia tomar café senão perdia o sono) e comendo crostoli, uma massa frita passada no açúcar e canela.
Minha vó sempre foi muito católica, então todo maio a noitinha tinha a missa para Nossa Senhora, nem eu, nem ela perdiamos tal ritual litúrgico, sendo que no último dia do mês, a mãe de Jesus era coroada.
Eu, nessa época estudava à tarde no Colégio Anjo da Guarda. Depois da aula eu já ia para casa da minha avó e mal chegava, nós duas íamos no jardim colher uma rosa para levar na Igreja.
Minha vó pegava uma tesoura de poda e um guardanapo de papel, para cortar a rosa e embrulhar o cabo para o espinho não furar meu dedo. E lá íamos nós pra Matriz de São João Baptista, aguardar o apogeu da noite, quando o coro começava cantar: "Mãezinha do céu, eu não sei rezar, só sei dizer, quero Te amar, azul é seu manto, branco é seu véu, Mãezinha eu quero Te ver lá no céu." E eu ia levar a rosa até o altar.
Vou fazer um parentes: minha avó sempre pedia para trazer estrume (coco bovino) para adubar as rosas, e quanto mais estrume (merda) se colocava, mais flor a roseira dava. Isso é um grande lição, não importa como nos tratam, mas como reagiamos ao tratamento. Se nos dão estrume, sabiamos devolver rosas, cada um dá o seu melhor.
Por causa dessa música eu tenho uma Nossa Senhora, que ganhei de um padre, Frei Beraldo e minhas tias pintaram o manto de azul, mas a roupa do menino Jesus eu quis que pintassem de cor de rosa, minhas tias até tentaram dizer que menino não usava rosa, mas o menino Jesus era meu e a roupa dele ficou rosa e é rosa até hoje.
Na volta da missa eu sempre entrava na Drogasil pra me pesar e depois batia em uma das janelas do Hotel Municipal que fica onde é a Credicitrus hoje.
Nunca mais vi uma foto do Hotel Municipal. Ele ficava na esquina de praça, tinha um toldo de vidro na frente e um pátio interno com uma fonte, suas janelas eram venezianas de madeira que davam para a rua. E na frente dele ficavam as tartarugas, uma fileira de bolas de ferro enviezadas utilizada como obstáculo para os carros.
Depois do mês de Maria, começava a festa de São João em frente à Matriz, eu nunca gostei de quermesse, nem quando era pequena, comer frango com a mão e ficar toda engordurada não era comigo. Eu só gostava da pescaria.
Mas entre o mês de Maria e o dia de São João, tem o dia de Santo Antônio. Dia de levar pão na igreja para benzer e depois comer para arrumar um bom marido. Minha avó, claro, que ia levar o pão para benzer e depois trazia para todos comerem, nem que fosse um pedacinho.
Minha mãe conta que quando moravam na Fazenda Recreio, minha avó fazia no dia de Santo Antônio 13 pães, que eram assados no forno à lenha e em vez de assadeira usava-se folhas de bananeira e depois ela distribuia na colônia.
Certa vez ela contou as famílias. Tinham exatamente 13 famílias na colônia e ela fez os 13 pães. Enquanto os pães assavam, meu avô Fabiano entrou na cozinha e disse que havia chegado mais uma família. Minha avó ficou apurada, aquela família iria ficar sem pão. Não tinha como fazer mais. Esperar a massa do pão crescer, assar no forno à lenha... demoraria muito.
Quando minha avó tirou os pães do forno, não haviam 13, e sim catorze. Provavelmente, ela contou errado o número de pães antes de colocar no forno, mas sempre atribuiu esse "milagre" a Santo Antônio.
Se você passou ontem sem ninguém, hoje é dia do Santo Casamenteiro e, tendo fé ou não, eu só arrumei alguém depois que comi do bolo de Santo Antônio e achei um santinho dele dentro.
Espero que o ano que vem você esteja com alguém, mesmo que seja a mesma pessoa, mas aprenda a ser como uma roseira, mesmo que lhe joguem estrume (merda), devolva flores, mas não esqueça dos espinhos, pois não custa dar pelo menos uma furadinha no dedo de quem nos machuca.
#vivaSantoAntônio
Bjs.
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