44 anos

Meu aniversário de 44 anos 

Senta que lá vem história.


Pra onde nós vamos no Natal? Foi essa a primeira pergunta que minha mãe me fez hoje. 

O ano passado foi o primeiro Natal sem meu pai e por isso viajamos: eu, Homero, minha mãe e minha irmã. Fomos pra Caxambu em Minas Gerais. E esse ano ela queria repetir a dose.

Eu tinha planejado, desde o ano passado que iria fazer os Mercados de Natal na Europa. São feiras natalinas que acontecem na maioria dos países do leste europeu, mas por causa da pandemia decidi ficar no Brasil e viajar de carro mesmo.

Já tinha começado a pesquisar alguns lugares, quando decidi fazer o Sul do país. Sairia de casa até Curitiba no Paraná para assistir o coral do Palácio Avenida.

No dia seguinte iria para Camboriú, parando em Joinville. De lá iria visitar Blumenau, o Parque do Beto Carreiro e depois seguir viagem até Florianópolis.

Meu destino final seria Gramado no Rio Grande do Sul para ver o Natal Luz, mas como ainda as coisas estão bem devagar em relação a essa pandemia, fiquei com receio de rodar até o Sul do pais e o Natal Luz não acontecer por causa da Covid-19.

Então resolvi que não iria mais viajar, mas depois da pergunta da minha mãe, meus planos mudaram de novo, só ainda não sei o destino.

Eu não sou muito chegada em festa de família (acho que não sou chegada em festa nenhuma), eu gosto de sossego, mas não dá para passar o Natal sozinha e eu adorei viajar no Natal (eu gosto de viajar em qualquer dia), mesmo que o destino final seja uma festa familiar.

Agora eu ainda encaro uma festa de família mais "de boa", mas quando era solteira era uma tortura.

Sempre fui solteira por opção. Nunca vi muita lógica no casamento, você deixa sua vida e vai viver a vida de outra pessoa. Bem, é assim que via e vejo o casamento.

A festa de família só ficava pior quando era um casamento. Sempre tinha alguém pra falar: "o seu será o próximo casamento" - como se isso fosse uma benção; eu só pedia pra não encontrar tal fulano em um velório pra não repetir as mesmas palavras: "o próximo (velório) será o seu", e dar uns tapinhas nas costas e finalizar com um sorriso irônico.

Todo mundo acha que quando se tem um companheiro ou companheira terá companhia. Ledo engano. 

Eu tinha mais companhia solteira. Se queria ir comer pizza, era só chamar quem gostava de pizza. Se queria ir pra balada era só ligar pra quem gosta de balada. Se eu quisesse viajar era só comentar com a heroína dos meus "causos": minha mãe. Não precisava nem convidar, que ela ia sem convite mesmo.

Ia fazer 44 anos e tinha que fugir da festa. Nada melhor que gastar o dinheiro com uma viagem do que enchendo a pança dos outros. E foi o que fiz.

Comprei minha passagem para conhecer São Luiz do Maranhão, escolhi o hotel, reservei os passeios e os traslados, arrumei a mala. Tudo pronto.

Meu vôo saia de São Paulo à tarde, eu iria chegar de noite em São Luiz. Resolvi ir de ônibus até  São Paulo, vou dormindo e nem sinto a viagem passar, além de que o Terminal Rodoviário do Tietê ficar no caminho do aeroporto de Cumbica.

Um dia antes liguei pra minha mãe, para dar as últimas orientações sobre meus gatos e falar a hora que ela teria que me levar tomar o ônibus.

Meu pai atendeu o telefone e chamou minha mãe. Era umas quatro horas da tarde. Estava passando as recomendações quando ela interrompeu minha fala e começou conversar com meu pai.

Achei estranho ela atender o telefone e continuar próximo do meu pai, ninguém conseguia falar ao telefone ao lado dele por causa do volume da televisão. 

Ele abaixou o som da tv para escutar o que ela falava.

Ela disse, quase miando como um gato: "Zeca, a Paula pediu para eu ir com ela para São Luiz do Maranhão."

Eu não tinha pedido nada pra ninguém, ou melhor, eu havia pedido para ela ficar com meus gatos em Bebedouro, não no Maranhão. Eu não tinha convidado ninguém, mas ela não precisa de convite para viajar.

Voltou a falar comigo no telefone: "Paula, seu pai quer que eu vá com você".

Meu pai não tinha falado exatamente isso, deu para eu escutar a fala dele do outro lado da linha telefônica, ele havia dito que se eu tinha convidado que era para ela aceitar o convite.

Eu respondi que hotel não seria problema, pois a maioria dos hotéis os quartos são para duas pessoas, só não sabia se iria conseguir passagem.

Ela voltou para o meu pai e disse que eu já havia até comprado hotel pra ela. Bom, eu não disse bem isso, mas achei melhor concordar.

Entrei na internet e consegui uma passagem no mesmo vôo meu. Sorte. 

Meu vôo fazia uma conexão em Fortaleza de menos de uma hora, por isso para facilitar não dava para despachar a mala, teria que ser uma mala de bordo.

Lembrei que as malas da minha mãe são enormes, então peguei uma das minhas e fui para casa dela levar a mala e dizer que tinha consegui a passagem.

Quando cheguei, fui direto para o quarto dela ajudar arrumar a mala e, para minha surpresa a mala enorme já tá estava pronta.

Pelo visto ela sabia que iria viajar comigo pelo menos dois dias antes de eu mesma saber,  já até tinha arrumado quem iria olhar os gatos e quem iria nos levar até a Rodoviária. Coisas de Nini.

Passamos as coisas para a mala pequena, que coube apenas um terço do que ela iria levar, os outros dois terços foram em mochilas, uma comigo com a maquiagem e outra com ela com os colares. Minha vaidosa mãe não ficar sem maquiagem, nem sem colar.

Quando "minha ficha caiu", minha mãe já estava em São Luiz do Maranhão comigo.

São essas pequenas fugas que fazem um casamento durar. Tem horas que se quer fugir, mas não tem pra onde correr, então basta se auto convidar para viajar com alguém. 

Bjs.

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