Quem não te curte, não te quer?

Quem não te curte, não te quer?
Em tempos de era digital a paquera começa com um pedido de amizade, evolui, para as curtidas, passa pelos comentários, mensagens in box, até chegar na frase fatídica “o que vai fazer sábado?”. - Quem não passou por isso que não dê o primeiro click.
E o tão esperado sábado chega. É o dia que tudo acontece de errado. Dá dor de barriga, acaba o delineador, a unha quebra, o zíper do vestido enrosca, sem falar no cabelo que resolve ficar revoltado. O nervosismo de ligar ou a ansiedade de esperar a ligação, confirmar o encontro, tocar a campainha e, depois de muita conserva em bate papo digital, pela primeira vez, quando se abre o portão é que se sente o perfume e os olhos se encontram. Meio tímidos, totalmente sem jeito. Mas com o currículo na ponta da língua, pois as horas de conversa na internet serviram, pelo menos, para saber os gostos da outra pessoa.
Depois vem o primeiro jantar, o primeiro filme, o primeiro beijo, a primeira briga. Depois da briga o tempo para fechar as cicatrizes antes da reconciliação. Tempo este que se sabia, antes da era digital, pelo encontro dos olhares. E hoje?
Hoje as pessoas buscar respostas dessas cicatrizes curadas nas postagens do outro, querendo adivinhar o significado da música compartilhada, se é uma indireta pra si ou pra outra pessoa. Tentando adequar a postagem de texto à um fato ocorrido, como uma cartomante relaciona uma carta à uma previsão do futuro. Querendo saber pra quem a pessoa se arrumou, com quem saiu e aonde foi. Imaginando que um vestido vermelho só pode ser um encontro amoroso.
Ficam dias, semanas, meses, anos... imaginando, imaginando... sem a coragem de dar um simples “curtir” em uma foto, pois o medo de não ser mais correspondido é grande como a incerteza de não saber se aquela produção da foto foi para ela te mostrar como continua bonita ou se foi para outro ver como ela é bonita. O medo de perder a única coisa que as vezes resta: a esperança. Não existe mais a troca de olhares para ter a certeza do que a pessoa ainda sente. Pois mil palavras não conseguem traduzir a expressão de um olhar.
Quando um desiste, pois cansou de esperar. O outro adiciona todos os ex relacionamentos, tentando de alguma forma preencher o vazio deixado, fazendo um verdadeiro caos na sua vida. Tendo que fugir. Inventando desculpas para se esquivar de encontros. Sendo que a única vontade que se tem é dar um “oi, td bem” e ter a pessoa amada de volta. Mas e se ela não volta: a esperança morre, e, as vezes, esperança é a única coisa que se tem para seguir em frente.
Se o medo impedir de dar o primeiro curtir, tente a forma antiga, do olho no olho, quando se forjava um encontro por coincidência. Pesquise os horários. Faça-se presente, mesmo que seu coração entre em descompasso, suas mãos suem, as palavras sumam... Mesmo que ela evite olhar nos olhos, finja que não lhe viu, abaixe a cabeça... insista, não perca o grande amor da sua vida. Nunca.
Se os olhos desviarem, puxe assunto. Mesmo que as palavras sumam, pois a única coisa que vem à mente é querer dizer “eu te amo”, tente conversar. E se mesmo assim, der “branco”, pergunte o básico: “o que vai fazer sábado?”, se a resposta for “nada”, com aquele ar de pouco caso, convide-a para sair, não perca a chance de ser feliz, abrace a sorte e nunca deixe o medo impedir que você AME.


Cartagena das Índias - Colômbia (arquivo pessoal/ 2015)

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