Feliz Valentine's Day

Feliz Valentine's Day

Quando eu era adolescente arrumei um namorado meio "torto" e bem mais velho, meu pai quando foi me buscar no clube me viu de mãos dadas com o tal moço. Quando entrei no carro falei logo de cara: "tô namorando o fulano". O bom de ser temporona é ter pais com experiência na crianção de filhos. Meu pai em vez de ficar bravo enumerou todos os defeitos do caboclo e no final acrescentou: "se é isso que você quer para marido quem vai sofrer é você e não eu". No dia seguinte eu terminei com o moço.
Passado alguns anos, arrumei outro namorado, este de família boa, educado, mas que sempre me fazia de boba. Quase todo sábado era a mesma coisa, ele ficava de aparecer, eu me arrumava e ficava na sala de tv esperando. Acabava o Jornal Nacional, depois a novela e por fim o filme da Globo e nada do moço. Preferia pensar que ele estivesse com os amigos, mas sabia que ele estava com uma moça mais fácil, afinal é bem melhor "bimbar" que ficar assistindo filme de mãos dadas. No domingo ele aparecia todo educado e feliz e eu emburrada engolindo a raiva para não fazer malcriação. E isso era meu final de semana. Até que meu aniversário caiu em um sábado e o moço "deu os canos" como de costume. Dia do aniversário a gente fica mais sensível, a vontade que eu tinha era ir para o meu quarto chorar, mas eu sabia que se fizesse isso minha mãe iria atrás para me consolar e sempre contava a mesma história que meu pai dava brilhantes para ela quando namoravam. Por isso, mesmo com minha garganta ardendo de segurar o choro, eu preferia ficar na sala, pois quando minha mãe começava contar sobre o namoro dela com meu pai, ele dizia: "vá, vá Nena, eu não via a hora de lhe deixar para sair com a lanterninha do cinema, o problema era que quando eu ia no cinema com você a lanterninha me beliscava de raiva". Mas nesse dia não teve história nenhuma, afinal era MEU ANIVERSÁRIO e o moço não veio. Meu pai, desligou a TV depois do filme da Globo acabar, me olhou e disse: "a sogra do seu irmão vai fazer uma excursão para Bahia, por que você não vai?". Respondi que a excursão iria sair no dia seguinte e eu não tinha descontado dinheiro, arrumado mala e também não conhecia ninguém que ia. Ele, com anos de sabedoria, disse que isso não era problema. Pediu para minha mãe ligar para minha cunhada para ver se a excursão poderia atrasar uma hora, tempo suficiente para ele ir até um posto de gasolina e descontar um cheque (naquela época não existia caixa eletrônico),; arrumei a mala e peguei um livro, afinal não existe melhor companhia que a leitura. No dia seguinte eu estava dentro de um ônibus rumo a Porto Seguro/ BA, lendo Agatha Christie e com vontade de chorar. Mas não existe tristeza que não se desfaça na Bahia, afinal sorria, você está na Bahia. Depois de 31 horas de viagem, chegamos a Porto Seguro, liguei pra casa para avisar que tinha chegado bem, meu pai atendeu e, não precisei nem perguntar, ele disse que o fulano havia ligado e que ele ( meu pai) disse que eu estava na Bahia, e que o fulano ficou surpreso e desapontado. Era esse empurrãozinho que eu precisava para parar de ser boba.
Com isso eu aprendi duas coisas, que são minha filosofia de vida: eu não sou metade de ninguém, por isso não coloco minha felicidade na mão de ninguém e, se um dia eu resolver dividir minha vida com alguém essa pessoa terá que estar à minha altura, afinal se eu casar mal sou eu que vou sofrer.
Feliz Valentine's Day


Cabrália - Porto Seguro/ BA (arquivo pessoal/ 1993)

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